Era mais uma reunião dos homens. Os indígenas tem pedido, muitas vezes, para o John ler uma passagem já traduzida das Escrituras, para que eles, em seguida a apliquem. Mas, naquela terça-feira, a reunião foi um pouco diferente. “Não podemos guardar o evangelho só pra gente enquanto outros tão perto de nós estão indo para o inferno!” Era a voz firme e mansa do Isaque Ianomami. Ele já tinha pensado na estratégia e, no domingo seguinte, os homens selecionados partiram com ele e o John para visitar aqueles que não têm demonstrado muito interesse pela mensagem de salvação – o povo do Tipolei. Eles moram um pouco rio abaixo, ainda dentro de Palimi-ú.
Esse não foi o primeiro fruto de um verdadeiro cristão que o Isaque demonstrou.
Desde seu arrependimento após pecados morais, Deus tem restaurado sua família
ao ponto de ser exemplo até mesmo para os técnicos de saúde do governo. Sua
palavra na terça-feira veio pouco depois de organizar uma reunião em sua casa
para exortar, animar e ouvir os fracos na fé. Também
recentemente, quando o tratamento contra a Leiximaniose quase
levou sua vida e o levou para a cidade, Isaque não se contentou em testemunhar
para os indígenas no Centro de Saúde, e foi parte importante no início de um
trabalho semanal, com pregação da Palavra para os indígenas que estão na
cidade, em sua língua. Alguém poderia dizer que até mesmo sua casa, bem cuidada
e cercada por plantas variadas e (quem diria!) até um projeto de poço, não
parece casa de Ianomami. Eu creio que é casa de Ianomami sim, daquele
transformado por Cristo!
A autoridade de vida do Isaque fez toda a diferença na visita ao povo do
Tipolei. Apesar da zombaria dos ouvintes, muito deles de ressaca, a
perseverança e sabedoria dos visitantes foi usada por Deus, e Seu Evangelho foi
pregado e ouvido com clareza. O contraste entre a vida da maioria do povo do
Tipolei e a dos cristãos é gritante e foi, pela primeira vez, encenado pelos
próprios indígenas. A ideia foi do Jonas Ianomami, e a apresentação “teatral”,
também organizada por ele, ocorreu em dois dias de cultos de celebração com o
propósito de relembrar o passado sem Cristo, para agradecê-lO pelo presente e
perseverar no futuro. Além das reuniões, havia, é claro, comida: macacos
caçados nos 5 dias em que os homens acamparam na mata. Eu aproveitei a
oportunidade para passar essas noites em que o John estava fora, na casa da
Sumaia, esposa do Jonas.
Após esse tempo de celebração, o John e eu nos dedicamos mais intensamente a
dois projetos: ele, a reforma do telhado, e eu, ao trabalho relacionado à
tradução de Gênesis 7-14. Demorou, mas o John finalmente encontrou uma árvore
caída com boa madeira para servir de suporte para as telhas de alumínio e, com
ajuda do missionário Jonathan, e de alguns indígenas, metade do interior da
nossa futura casa já não fica mais molhada em dia de chuva. Quase ao mesmo
tempo, essa minha tarefa relacionada à tradução foi concluída, com a ajuda
fundamental do Jonas. Terminamos esses projetos um dia antes de ouvirmos o som
do avião de Asas de Socorro pousando, para nos levar para nossas quase 3
semanas na cidade.
Com exames médicos, visita aos pais do John e a igrejas, trâmites com
documentos, compras para nós e para os indígenas, conversas com a tesouraria da
MEVA, contatos com irmãos e amigos, avaliação do nosso nível na língua, visitas
a indígenas na cidade; nosso tempo aqui tem sido, como sempre, recheado.
Carregamos, também, corações recheados de gratidão pelo que Deus tem feito em
Palimi-ú. Gratidão e convicção de que ainda há muito a ser feito por lá, como
me lembrou a Roice Ianomami, após um estudo bíblico em que mencionei que o
cristão deve se livrar de toda gritaria e calúnia (Ef 4.31): “Essa mensagem é
nova. Eu não a conhecia, mas agora eu a conheço. E vou obedecer.”
Obrigada por também obedecer ao Senhor, mantendo-nos em suas orações.
John e Rebecah
Peço que lembrem-se destes irmãos queridos em vossas orações.
Deus abençoe.
Pr. Dinei Morais
Igreja Ágape de Atibaia